30.6.13

Hoje eu amadureci mais um pouco

Depois de, comigo, assistir à peça “Petit Monstre” no teatro Oi Futuro da Dois de Dezembro, tomar chocolate quente no cibercafé do lugar, ir a uma loja de brinquedos de madeira e, finalmente, comprar os volumes 3 e 4 do “Diário de Um Banana” na Saraiva do Riosul, minha neta Sofia, de sete anos, olha para o Café Baroni, que funciona dentro da livraria, e me convida para sentar a uma das mesas para bater um papo, sem precisar comer nada, pois ela não estava com fome.

Interessante também foi quando perguntei de que matérias ela gostava na escola e, entre outras, Sofia citou “Tribo” (?!). Na minha ignorância de avô careta, perguntei do que essa matéria tratava e qual o motivo da preferência. Com o ar de seriedade próprio de crianças de sete anos diante de um avô que nada sabe, minha neta informou que nessas aulas os alunos ficam em círculo, discutem os problemas da turma, meditam ou fazem outras coisas importantes…

JUSTIÇA CONTRA CRISE DE LEGITIMIDADE NA ABI

Na foto, o solitário Maurício Azêdo abre a Assembleia-Geral Ordinária Anual da ABI, no dia 25 de abril deste ano.
Blog da Chapa Vladimir Herzog, 28/06/2013:

JUSTIÇA CONTRA CRISE DE LEGITIMIDADE NA ABI

A Desembargadora Marilene Melo, da 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, cassou a decisão do juiz Gustavo Henrique Nascimento Silva que havia deferido a solicitação de Maurício Azêdo para dar posse aos membros da chapa comandada por ele. A eleição, ocorrida no final do mês de abril e que está ainda sub judice, teve apenas a chapa de Azêdo como oficialmente inscrita, porque ele usou de artifícios escusos para impedir a participação de uma chapa concorrente. A Desembargadora entendeu que os eleitos não têm legitimidade para tomar posse, já que a eleição ocorreu sub judice. Até que haja o exame do mérito da ação principal, que poderá cancelar a eleição autorizando novo pleito, permanecem em suas funções os diretores da administração anterior.

29.6.13

VITÓRIA! SARNEY RETIRA PLS 112/06

Requerimento nº 721, de 2013, de autoria do Senador José Sarney, que solicita, nos termos do art. 256 do Regimento Interno, a retirada, em caráter definitivo, do Projeto de Lei do Senado nº 112, de 2006, de sua autoria

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SENADO FEDERAL

Secretaria-Geral da Mesa

Acompanhamento de Matérias

As seguintes matérias de seu interesse sofreram ações em: 27/06/2013

SF PLS 00112 2006
Ementa: Acrescenta e altera dispositivos da Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dá nova redação a dispositivo da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, e a…
26/06/2013 ATA-PLEN – SUBSECRETARIA DE ATA – PLENÁRIO
Leitura do Requerimento nº 721, de 2013, de autoria do Senador José Sarney, que solicita, nos termos do art. 256 do Regimento Interno, a retirada, em caráter definitivo, do Projeto de Lei do Senado nº 112, de 2006, de sua autoria (que tramita em conjunto com o Projeto de Lei do Senado nº 234, de 2012). À SCLSF.
26/06/2013 SSCLSF – SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Encaminhado ao Plenário.
27/06/2013 SSCLSF – SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Encaminhado ao Plenário.

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Leia também:

Se ruim está, pior ficará
Uma garota Down

28.6.13

Quando penso no futuro, não esqueço o passado

Quando penso no futuro, não esqueço o passado

BRUNO CRUZ

Para que a democracia avance, e não retroceda, é preciso enxergar as recentes manifestações que se espalharam por todo o Brasil como um movimento complementar à luta pela redemocratização do país e não uma contradição a ela. Se as eleições, os partidos, os sindicatos, uma nova Constituição e diversas outras garantias democráticas já não são suficientes hoje, vamos em frente, mas sem abrir mão do que foi conquistado até aqui.

Nesse sentido, é preciso estar atento ao fascismo de plantão, que ataca os militantes de partidos que estão exercendo seu direito democrático de livre expressão quando carregam suas bandeiras em atos públicos. Brasileiras e brasileiros foram torturados e assassinados pela ditadura militar quando lutavam pelo direito de dizer o que pensavam, de se manifestarem nas ruas e de se organizarem em partidos políticos.

No Brasil, o período da história em que não tínhamos partidos não à toa coincidiu com a escuridão da ditadura militar. Os fascistas que mandavam no país naquela época, foram anistiados e o pijama é seu uniforme agora. Guardados no porão da história, criminosos sem julgamento aguardam uma chance para voltar às ruas. O exército nas ruas, uma opção perigosa ventilada pelo Secretário de Segurança do Rio em entrevista coletiva à imprensa no dia 21 de junho.

Não negamos, com isso, a crise de representatividade instalada no Brasil. Os partidos, os sindicatos e demais entidades representativas, se quiserem sobreviver, terão de repensar sua forma de ação e organização. E é para afastar os fantasmas do passado que nós, da Chapa 1 – Linha Direta com Jornalistas, propomos a participação dos jornalistas do Rio no processo de apuração dos crimes da ditadura militar através da instalação da Comissão da Verdade do nosso Sindicato.

*Bruno Cruz é candidato a presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro pela Chapa 1 – Linha Direta com Jornalistas.

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22.6.13

A CRISE DA REPRESENTAÇÃO NA DEMOCRACIA

Nós, da Chapa 1, escolhemos o nome Linha Direta com Jornalistas justamente por percebermos tal crise de representatividade também no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro. Escolhemos esse nome porque, mesmo antes das manifestações, nos convencemos de que nosso Sindicato precisa renovar sua estrutura e seus quadros. É preciso escutar os novos colegas, que ingressaram recentemente no mercado de trabalho e que, certamente, estiveram presentes nas ruas brasileiras, com um cartaz ou com microfone ou câmera na mão.

Acompanhamos nas duas últimas semanas a onda de manifestações que varreu o país e que, “de repente”, colocou em xeque as formas de representação cristalizadas na sociedade brasileira (partidos, sindicatos, parlamento etc.). Nas ruas, centenas de milhares de jovens – fala-se em mais de um milhão – não têm unidade de propostas, naquilo que querem exatamente, mas estão seriamente convictos sobre o que não querem mais.

Esses jovens, e todas as outras pessoas que se juntaram a eles, não querem mais corrupção, não querem mais suas prioridades para investimentos públicos (saúde, educação, habitação, emprego etc.) ignoradas pelos governantes. Enfim, não querem mais essa democracia indireta que lhes é concedida, essa participação difusa que só acontece nas eleições, periodicamente. Os filhos do wifi e da internet querem opinar na hora, agora, sobre tudo, e querem ser ouvidos também na hora, agora, sobre tudo.

Foi nesse sentido que decidimos focar a proposta da nossa Chapa 1 no resgate da identidade entre o sindicato e uma categoria que mudou muito nos últimos anos, e queremos legitimar canais de participação e filiação remota, via internet, formar uma rede de colaboradores capaz de assumir, em nome do sindicato, iniciativas de interesse dos jornalistas, realizar um Congresso que reforme o estatuto, para possibilitar uma participação mais direta e democrática dos jornalistas na gestão sindical.

Tudo isso está na lista das vinte propostas prioritárias do projeto Linha Direta com Jornalistas, e também queremos condições suficientemente seguras para trabalharmos em situações de conflito nas ruas. Ainda assim, seguimos abertos para a ampliação do nosso programa – basta entrar em contato!

E-mail: linhadiretacomjornalistas@gmail.com

A Passeata dos 300 Mil na Avenida Presidente Vargas, dia 20/06 (Foto: Paulo Jacob/O Globo Online)

20.6.13

Passeata dos 300 Mil

Foto: Paulo Jacob / Agência O Globo

Nas ruas, como na guerra

ANDREI BASTOS

Quando esticamos a memória e analisamos a “Guerra do Vintém”, de 1880, cuja reivindicação foi a revogação da cobrança de 20 réis, um vintém, nos bondes puxados a burro, identificamos paralelos com o que acontece hoje no país, que bem poderíamos chamar de “Guerra dos 20 Centavos”.

Em 1880, como agora, logo os políticos que tentaram se apropriar do movimento foram deixados de lado; em 1880, como agora, a polícia recebeu ordens de dispersar a multidão a cacetadas; em 1880, manifestantes viraram bondes, arrancaram trilhos e atiraram paralelepípedos nos soldados, como os de agora viraram carros, depredaram prédios e também jogaram pedras na polícia, mesmo como ações de minorias.

Em 1880, o oficial que comandava as tropas levou uma pedrada, descontrolou-se, e ordenou que atirassem na multidão, o que vem acontecendo agora, sem pedrada e sem descontrole, inclusive contra jornalistas que fazem a cobertura dos eventos.

Muito depois disso, durante a ditadura, em 1968 assistimos, no Rio de Janeiro, à maior manifestação da opinião pública até então, que entrou para a história como a Passeata dos 100 Mil e teve, diante do endurecimento do regime, a luta armada como desdobramento histórico, o que esperamos que não ocorra agora.

O Comício das Diretas Já, em 1984, que intimidou até o ex-ditador Ernesto Geisel, foi a última grande manifestação da opinião pública na ditadura e abriu caminho para a redemocratização do Brasil, que então, democraticamente, assistiu aos caras-pintadas conduzirem suas manifestações até o impeachment de Collor.

Mas o Brasil vive hoje um momento histórico único, sem a organização, lideranças e objetivos claros existentes nos anos de chumbo. Suas especificidades começam pelo antecedente do longo período de silêncio da opinião pública, que ficou calada, ao menos aparentemente, diante da verdadeira escalada de irresponsabilidade pública praticada principalmente por governantes e parlamentares, e fez nossa juventude parecer alienada.

Também como características próprias do momento atual, da nova e histórica Passeata dos 100 Mil no dia 17 de junho, temos sua multiplicidade de reivindicações, que acolheu todas as bandeiras com a dos 20 centavos e denuncia a liberação de forças sociais há muito represadas, e temos sua absoluta contemporaneidade, pelo uso das novas tecnologias de comunicação e das redes sociais para conscientização e mobilização.

A dimensão inédita desse momento transforma a todos em agentes da história, do trabalhador que sente o peso de 20 centavos no bolso ao jornalista que enfrenta os riscos inevitáveis de acompanhar os acontecimentos geralmente inseguros. Não tem sentido culparmos manifestantes ou policiais por quaisquer agressões que nos atinjam, pois a insegurança é a essência de toda transformação social de grandes proporções como a de agora.

Do mesmo modo que os capacetes azuis da ONU, que se arriscam em conflitos mundo afora, o jornalista tem o dever consigo mesmo de se identificar claramente em campo, quando se mistura a manifestantes ou policiais, a despeito de mesmo “uniformizado” continuar exposto a riscos, como um correspondente de guerra.

Finalmente, pode parecer exagerado discorrer aqui sobre eventos da história mas, na verdade, tal reflexão é essencial porque jornalistas atuaram e foram atingidos em todos eles e, consequentemente, ela serve para entendermos que buscas de garantias e segurança para trabalhar estão muito além de simples questões trabalhistas. São uma questão de resgate do papel social do jornalista!

*Andrei Bastos é candidato a vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro pela Chapa 1 – Linha Direta com Jornalistas.

Repórter Giuliana Vallone, que no dia 13 de junho levou um tiro de bala de borracha no olho, durante um protesto em São Paulo

17.6.13

A nova Passeata dos 100 Mil


A nova passeata dos 100 mil. Manifestação no Rio supera a marca do histórico ato contra a ditadura militar e toma as ruas do Centro da cidade. (O Globo Online, 17/06/2013)

A Guerra dos 20 Centavos

14.6.13

A guerra do vintém

Repressão ao Movimento Passe Livre, São Paulo, 2013

Revista de História.com.br, 09/09/2007:

A guerra do vintém

Exploradas por militantes republicanos, manifestações contra taxa sobre transporte urbano
tumultuam capital do Império e deixam mortos e feridos pelas ruas

José Murilo de Carvalho

No dia 28 de dezembro de 1879, a capital do Império viu algo inédito desde 1863, quando o Brasil rompeu relações com a Inglaterra por conta da Questão Christie: a multidão protestando na rua. A manifestação aconteceu no campo de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em frente ao palácio imperial. Cerca de cinco mil pessoas, lideradas por um militante republicano, o médico e jornalista Lopes Trovão, reuniram-se para entregar a d. Pedro II uma petição solicitando a revogação de uma taxa de 20 réis, um vintém, sobre o transporte urbano, ou seja, bondes puxados a burro. O vintém era moeda de cobre, a de menor valor da época. A polícia não permitiu que a multidão se aproximasse do palácio. Enquanto os manifestantes se retiravam, o imperador mandou dizer que receberia uma comissão para negociar.

Mas Lopes Trovão e outros militantes republicanos, buscando tirar o máximo proveito político da ação da polícia, recusaram o encontro. Divulgaram um manifesto dirigido ao soberano, convocando-o a ir ao encontro do povo. A Gazeta da Noite de Lopes Trovão e panfletos distribuídos pela cidade passaram a pregar o boicote da taxa e a incitar a população a reagir com violência, arrancando os trilhos dos bondes. Outra manifestação foi convocada para o dia 1º de janeiro, data da entrada em vigor da taxa, agora no centro da cidade, no Largo do Paço, hoje Praça 15 de Novembro.

Nesse dia, a taxa estava sendo paga até que, ao meio dia, a multidão se reuniu no local previsto. Percebendo talvez a enrascada em que se metera, Lopes Trovão não incitou a multidão à ação. A massa moveu-se, então, pelas ruas do centro aplaudindo as redações dos jornais de oposição e se dirigiu ao Largo de São Francisco, ponto final de várias linhas de bonde. Em frente ao prédio da Gazeta da Noite, o próprio Trovão fez um apelo aos manifestantes para que se dispersassem. Mas àquela altura ele já perdera o controle dos acontecimentos. A massa popular concentrou-se nos arredores da Rua Uruguaiana e do Largo de São Francisco. O delegado que comandava as tropas da polícia pediu reforços ao Exército, mas, antes que a ajuda chegasse, ordenou à polícia que dispersasse a multidão a cacetadas.

A um grito de “Fora o vintém!”, os manifestantes começaram a espancar condutores, esfaquear mulas, virar bondes e arrancar trilhos ao longo da rua Uruguaiana. Dois pelotões do Exército ocuparam o Largo de S. Francisco, postando-se parte da tropa em frente à Escola Politécnica, atual prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. O povo, que só detestava a polícia, aplaudiu a tropa. Mas alguns mais exaltados passaram a arrancar paralelepípedos e atirá-los contra os soldados. Por infelicidade, um deles atingiu justo o comandante da tropa, tenente-coronel Antônio Enéias Gustavo Galvão, primo de Deodoro da Fonseca, militar que uma década depois se tornaria o primeiro presidente do Brasil. O oficial descontrolou-se e ordenou fogo contra a multidão.

As estatísticas de mortos e feridos são imprecisas. Falou-se em 15 a 20 feridos e em três a dez mortos. Entre os últimos, estavam estrangeiros e o flautista Loló, condutor da Cia. de São Cristóvão, atingido por uma pedrada. A multidão dispersou-se e, salvo pequenos distúrbios nos três dias seguintes, estava findo o motim do vintém. A cobrança da taxa passou a ser quase aleatória. As próprias companhias de bondes pediam ao governo que a revogasse. Desmoralizado, o ministério caiu a 28 de março. O novo ministério revogou o desastrado tributo.

A capital do Império estava acostumada a distúrbios de rua. Vivera em quase permanente agitação entre 1820 e 1840. Nessa última data, o povo exigiu na rua a maioridade do imperador. A partir daí, no entanto, refletindo a estabilização política do Segundo Reinado, reduzira-se muito a agitação. A tranqüilidade das ruas só fora quebrada nos protestos contra Christie, quando a multidão, liderada por Teófilo Otoni, ameaçou comerciantes ingleses e aplaudiu a ação do imperador. O que a trouxe de volta em 1879?

Em 1878, depois de 10 anos de domínio conservador, subira ao poder o gabinete liberal de Sinimbu, encarregado de fazer a reforma eleitoral. Dividido por conflitos internos, desagradou a gregos e troianos. Os republicanos estavam furiosos com Lafaiete Rodrigues Pereira, ministro da Justiça, que assinara o Manifesto Republicano de 1870, e agora se bandeava para o campo liberal. A principal fonte de insatisfação, no entanto, vinha da política fiscal do ministro da Fazenda, Afonso Celso de Assis Figueiredo, futuro visconde de Ouro Preto, que tinha fama de excelente administrador e financista. Para enfrentar as dificuldades financeiras geradas pelos enormes gastos com a grande seca de 1877 no norte do país, propôs ele no projeto de lei orçamentária de 1879, aprovado pela Câmara, vários aumentos de impostos antigos e a introdução de alguns novos. Atingiu o bolso de todos, proprietários de escravos, aspirantes a títulos nobiliárquicos, fumantes, amantes do vinho, comerciantes e simples cidadãos. As medidas mais irritantes foram o novo imposto sobre vencimentos dos funcionários públicos, o antepassado do imposto de renda, e a taxa de um vintém sobre o valor das passagens no transporte urbano.

O novo imposto e a taxa atingiram diretamente duas categorias, os funcionários públicos e os usuários de bondes. Em 1870, a capital tinha 192 mil habitantes na área urbana, dos quais 11 mil funcionários públicos, entre civis, militares e eclesiásticos, já que naquela época o catolicismo era a religião oficial do Estado. Havia quatro grandes companhias de ferro-carris urbanos, ou de bondes, como ficaram conhecidos: a Botanical Garden Co., que cobria a zona sul, saindo da rua Gonçalves Dias, a Cia. de São Cristóvão, concentrada na zona norte, com ponto final no Largo de São Francisco, a Ferro-carril de Vila Isabel, que partia da Praça Tiradentes, e a Cia. de Carris Urbanos, que atendia ao centro, incluindo a zona portuária.

O bonde era um transporte de massa. Cada carro, puxado por animais sobre trilhos, transportava 30 passageiros. Só as três primeiras companhias acima listadas transportaram em 1879 mais de 20 milhões de passageiros. É óbvio que a taxa do vintém jogava muita gente contra o governo, sobretudo contra o Afonso Vintém, como ficou conhecido o ministro da Fazenda. Para atingi-los, foram atacadas no dia primeiro as companhias de bondes, com exceção da Botanical Garden, de propriedade norte-americana, que se prontificou a pagar ela mesma a taxa.

Desse clima de insatisfação, tiraram vantagem os agitadores republicanos. Ao que parece, na demonstração de São Cristóvão estavam presentes, sobretudo, pessoas de melhor situação social, certamente muitos funcionários públicos. Na do dia 1º, teria entrado em ação a massa dos usuários mais pobres, acrescida da tropa barra-pesada do centro e da zona portuária. Não por acaso, os líderes do movimento perderam o controle da multidão nesse dia.

Embora legal, a taxa do vintém era profundamente impolítica, como se dizia na época. O ministro fora alertado para as possíveis reações. Mas Afonso Celso era tão competente quanto teimoso. Pagou por isso alto preço em 1880, como pagaria em 1889, por ocasião da proclamação da República. A reação da polícia foi infeliz em 28 de dezembro, ao não negociar a audiência com o imperador, e imprudente em 1º de janeiro. A do Exército, simplesmente desastrada.

Os acontecimentos chocaram o Imperador. Em cartas à condessa de Barral e ao conde de Gobineau, afirmou que em 40 anos de reinado nunca tinha sido usada a força contra o povo da capital do Império. Não lhe escapou mesmo a conotação republicana dos incitadores do motim. Afirmou à condessa que seria mais feliz como presidente de uma república.

Mas a revolta não foi republicana, afirmaram seus próprios líderes. Muitos interesses feridos nela se fundiram, de grandes e de políticos, de gente miúda e de simples cidadãos. Uma grande explosão social, detonada por um pobre vintém.

José Murilo de Carvalho é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), membro da Academia Brasileira de Letras, do IHGB e da Academia Brasileira de Ciências e autor de D. Pedro II: ser ou não ser. São Paulo: Cia. das Letras, 2007.

O futuro do jornalismo estava na Gávea

Folha de S. Paulo, 12/06/2013:

Elio Gaspari

O futuro do jornalismo estava na Gávea

Notícia gosta de repórter, vai do Havaí a Hong Kong e pousa no Rio, mas a imprensa precisa gostar
dela

A ventania reformadora dos meios de comunicação voltou ao Brasil da pior e da melhor maneira. Cortaram-se vagas e poderão ser extintos títulos que fizeram história. Esse é o aspecto fim do mundo. Há o outro, do mundo novo. De sua casa na Gávea, o jornalista Glenn Greenwald explodiu um dos grandes segredos do governo americano jogando o companheiro Obama no fosso da falta de credibilidade. Ele grampeia o mundo, inclusive seus cidadãos.

Nunca na história deste país notícia tão importante saiu daqui, muito menos da Gávea. A imprensa americana tem dezenas de repórteres especializados em segurança nacional. A maioria trabalha em Washington, com bons salários e incríveis fontes. Os mais afortunados vão todo ano ao jantar dos correspondentes da Casa Branca, com direito a tapete vermelho e a acompanhantes famosas. Pois foram batidos por um repórter que, desde 2007, trabalha no Rio. Depois de passar pelo site “Salon”, Greenwald está no jornal inglês “The Guardian”. Seu principal instrumento de trabalho é o computador.

Em 1969, Daniel Ellsberg, um analista do Departamento de Defesa Americano, desencantou-se com a política de seu governo no Vietnã e começou a copiar 47 volumes de um relatório secreto. Ralou meses dormindo pouco e gastou o equivalente a US$ 20 mil. Ofereceu-os a dois senadores e nenhum deles quis se meter na encrenca. Cinco meses depois, convenceu um repórter do “New York Times” a entrar no caso. O jornal levou mais três meses para digerir o material e, em junho de 1971, surgiram os inesquecíveis “Pentagon Papers”. Em 2009, o soldado Bradley Manning baixou 750 mil telegramas secretos do governo americano em CDs de canções de Lady Gaga. Num só, em alguns minutos, caberiam cinco cópias dos “Pentagon Papers”. Ele mandou o material para o site Wikileaks e deu no que deu.

Da Gávea, Greenwald recebeu as informações mandadas por um técnico da National Security Agency que trabalhava para a Booz Allen Hamilton. Sabia-se que a NSA inaugurará em outubro uma central de dados no deserto de Utah com capacidade para armazenar dez vezes tudo o que há na internet. A denúncia de que Obama grampeia o mundo veio de Edward Snowden. Ele tem 29 anos, vivia no Havaí, foi para Hong Kong e de lá remeteu as informações. Valeu-se de Greenwald porque respeita seu trabalho no “Guardian”, jornal centenário, com uma tiragem de 200 mil exemplares e um site grátis.

Seu prestígio vem da qualidade de seus repórteres e do discernimento de seus editores. O que Greenwald fez foi buscar notícia e, graças à internet, recebeu-a, na Gávea. A internet não ameaça o jornalismo. Pelo contrário, facilita-o, desde que o repórter saiba o que deve procurar, faça-se respeitar por quem tem o que ele busca e haja nas Redações o entendimento de que notícia ajuda, não atrapalha a rotina de uma edição.

As duas maiores notícias do século (“a guerra acabou” e “Kennedy está morto”) foram divulgadas contrariando as convenções jornalísticas. A rendição alemã estava embargada e o repórter que a pôs no ar foi punido. A morte do presidente foi anunciada sem que a informação fosse confirmada e, obviamente, foi desautorizada pela Casa Branca. Sacrossanta internet, a notícia sai do Havaí, passa por Hong Kong e pousa na Gávea.

***
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Chapa 1 – Linha Direta com Jornalistas

11.6.13

Carta à amante do marido

Senhora,

Saiba que o único motivo que me fará continuar ao lado de meu marido é saber que ele me ama. Disto, confesso, ele me tem dado grandes provas. Mas, paralelamente, vem mantendo um “caso” com a senhora. Sim, digo um “caso” porque não me parece uma simples amizade o grau de intimidade que vem concedendo a meu marido: com tantas visitas à sua casa, convites para que ele a acompanhe a às suas amigas em reuniões e passeios, compras que fazem juntos até mesmo com a intromissão do seu gosto em coisas de uso pessoal dele. Enfim, tudo aquilo que um marido costuma fazer acompanhado de sua mulher.

A observação que venho fazendo de tal comportamento me deu o direito de pensar (sem que isso possa ofendê-la) que a senhora já havia chegado até mesmo à permissividade… de “faire l’amour”… Mas recuso-me a acreditar que uma mulher na sua posição social de ex-embaixatriz, de viúva recatada e tão católica possa conformar-se com o papel da “outra” na vida de um homem casado: aceitando a condição de ser apenas a aventura e a distração do fim de semana.

No entanto, as circunstâncias forçam-me a acreditar nisto. Pois a senhora deixou bem claro ao meu marido que não gostaria de terminar esta “amizade”. Embora fizesse muita questão de afirmar-lhe que “jamais ‘roubaria’ o marido de outra mulher, principalmente sendo o pai de filhos menores, entre os quais duas garotas de 11 e 13 anos. Quando meninas adolescentes necessitam tanto de um pai dentro de casa”.

Pois saiba, minha senhora, que meninas adolescentes necessitam dentro de casa é do amor mútuo de seus pais. Na base do amor correspondido é que se formará a sua felicidade e terão construído o seu equilíbrio emocional.

Quando na vida de um casal o amor é unilateral, os filhos deste casal guardarão como exemplo a hipocrisia de uma felicidade para “mostrar aos outros”, ou seja, uma enorme mentira. Terá sido esta a vida de casada que a senhora teve ao lado de seu marido?

Tenha a certeza que de minha parte jamais aceitarei tal ambivalência:

Sou uma mulher extraordinariamente compreensiva e tolerante, mas tudo tem o seu limite. A minha tolerância termina onde começa a minha necessidade de ter comigo o homem que eu amo, e por que me ama.

Como poeta e grande galanteador, que é o meu marido, ele já deve lhe ter dito em momentos coloquiais “que a senhora tem tudo o que um homem pode pretender de uma mulher: beleza, elegância, sensibilidade, impulso sensual, companheirismo, diálogo etc. etc.

Penso que chegou a hora da verdade: de uma definição por parte de meu marido, da senhora, e de mim mesma. Para que nenhum de nós cometa a leviandade de brincar com os sentimentos alheios. Ainda que desta verdade resulte a nossa separação. Assim, eu continuaria amando e respeitando o homem pela sua honestidade de sentimentos. Do contrário, com certeza, acabaria por desprezar e odiar o marido.

Não tenha remorsos nem escrúpulos em “roubá-lo” de mim. De uma mulher como eu que, acima de tudo, acredita que somente o amor dá a razão por que a vida deve ser vivida.

Se não é verdadeiro o seu amor por mim, e a verdade é que ele a ama, que vá viver com a senhora. E faça disso bom proveito.

Respeitosamente,

Uma mulher traída.

***
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6.6.13

Chapa 1 - Linha Direta com Jornalistas

Chapa 1 – Linha Direta com Jornalistas

Presidente: Bruno Cruz
Vice-presidente: Andrei Bastos
1º tesoureiro: Marcos Pereira
2º tesoureiro: Rosayne Macedo
Secretário-geral: Terezinha Santos
Conselho fiscal: Maurílio Ferreira, Bette Romero, Sônia Fassini
Delegados na Fenaj: Ilza Araújo, Miro Nunes
Suplentes: Marília Ferreira, Malu Fernandes, Carmen Pereira, Sandra Martins, Mônica Coronel
Comissão de Ética: Iara Cruz, Cristina Miguez, Márcio Ferreira, Luís Carlos Bitt, Françoise Vernot

***
A CASA É NOSSA!

Mais do que um grupo de profissionais que quer representar a categoria, nós, do Projeto Linha Direta com Jornalistas (CHAPA 1) pretendemos trabalhar como facilitadores e propomos a abertura plena do sindicato. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ) precisa se adequar à nova realidade das tecnologias da informação e conquistar oportunidades do interesse de uma categoria que tem se reinventado nas últimas duas décadas. Para isso, é prioritário resgatarmos a identidade entre sindicato e jornalistas, hoje indefinida para a maioria!

Na última gestão do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ), a diretoria obteve conquistas importantes, como a retirada de feriados do banco de horas e seu pagamento em dinheiro, a regularização da sede do sindicato, a adoção do ponto eletrônico nas redações e a bem-sucedida aprovação da PEC do Diploma no Senado Federal. Mas a participação da categoria nessas conquistas foi pequena, com assembleias vazias e número baixo de filiações, sobretudo de jovens profissionais recém-ingressos no mercado de trabalho.

Nossa ideia é fazer com que todos os jornalistas se apropriem do sindicato e o transformem num espaço vivo e atuante. Que ocupem o auditório e, apoiados pela direção, organizem eventos culturais, cursos, debates, oficinas com estudantes, apresentações acadêmicas, lançamentos de livros, reuniões do movimento social, sessões de cinema, encontros de aposentados, palestras de especialistas e o que mais seja considerado pertinente. Além disso, pretendemos abrir uma nova carteira de plano de saúde e realizar novos convênios, o que consolidará a identidade entre sindicato e jornalistas e fará ressurgir o interesse da categoria pela sua entidade representativa. A partir daí, acreditamos que os profissionais compreenderão melhor a importância das assembleias e mobilizações de caráter mais político.

Nós, do Projeto Linha Direta com Jornalistas, entendemos que apenas duas coisas são necessárias para concretizarmos nosso plano: uma rede de colaboradores assumindo iniciativas de interesse da categoria e a reorganização da estrutura do sindicato em função do impacto das novas tecnologias da informação na sociedade e no jornalismo. Expostos de maneira mais completa em nosso programa, esses são os dois objetivos estratégicos que norteiam o Projeto Linha Direta com Jornalistas e que consubstanciam as seguintes propostas:

1) Protocolo: adoção de um sistema em que cada dúvida, reclamação ou encaminhamento feito ao sindicato por SMS, e-mail, Facebook, telefone, correspondência ou pessoalmente receba um número de protocolo quando registrado e obtenha resposta em 24 horas.

2) Central de relacionamento: contratação/designação de um responsável por aproximar o sindicato dos associados, mantendo-os informados de eventos específicos, situação de mensalidades, sugestões de convênios, atualizações de cadastro etc.

3) Campanha permanente de filiação: criação de um sistema que possibilite a filiação remota, na casa ou no trabalho do jornalista, e nos eventos de que o sindicato participe.

4) Sem abrir mão das conquistas trabalhistas que já obtivemos, pretendemos discutir e elaborar formas de remuneração para as funções que surgiram ou se alteraram com as novas tecnologias da comunicação e informação.

5) Defesa da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão.

6) Piso salarial: lutar pela inclusão dos jornalistas na lei do piso regional da Assembleia Legislativa e pelo piso nacional dos jornalistas no Congresso Nacional.

7) Legitimar participação via internet: adotar mecanismos de participação remota em assembleias, reuniões e eventos do sindicato através de transmissões ao vivo pela internet.

8 ) Realização do Congresso dos Jornalistas do Município: uma reforma do estatuto se faz necessária para legitimar a participação nos fóruns deliberativos pela internet e para debater as questões políticas de interesse da categoria.

9) Cátedra Sindical: estabelecer uma parceria permanente entre o sindicato e os cursos de comunicação no município em que palestras e atividades sobre mercado de trabalho, ética e formação profissional, realizadas pelo sindicato, tanto nas universidades como na própria entidade, valham créditos para os estudantes.

10) Pressionar junto com a Fenaj pela aprovação do projeto de lei que federaliza os crimes cometidos contra jornalistas.

11) Jornalismo sem depressão e sem assédio: campanha de boas práticas contra o assédio moral e doenças ocupacionais através de cartilhas, palestras, terapia em grupo e convênios com terapeutas.

12) Abertura de uma nova carteira de plano de saúde para os associados.

13) Abertura de novos convênios em estabelecimentos de interesse dos jornalistas, como museus, livrarias, restaurantes, teatros e cinemas.

14) Valorização do jornalista sênior: debater políticas e lutar por cláusulas na convenção coletiva que garantam respeito e estabilidade para profissionais com mais de vinte anos de carreira.

15) Criar o núcleo de aposentados do sindicato: o objetivo é integrar os aposentados às atividades do sindicato e criar outras iniciativas do interesse dos jornalistas nessa condição.

É por isso que nós, da CHAPA 1, propomos aos jornalistas cariocas que, nos dias 16, 17 e 18 de julho, votem no Projeto Linha Direta com Jornalistas!

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Pessoal, está na hora de participar do futuro do nosso sindicato. Para votar nas eleições dos dias 16, 17 e 18 de julho, você pode se sindicalizar ou acertar as contas até o dia 5 de julho.

Para mais informações, ligue: 3906-2450

Quem já é sindicalizado e quer acertar suas contas com o SJPMRJ pode fazê-lo por depósito em conta corrente do sindicato. A seguir, como proceder:

SINDICATO DOS JORNALISTAS PROF. DO MUNICIPIO DO RJ
(Valor do depósito para ficar em dia até julho/2013: R$ 180,00)
Banco do Brasil
Agência: 0392-1
Conta Corrente: 43.186-9
CNPJ: 34.057.448/0001-63

Após o depósito, escanear e enviar o comprovante, com o nome completo do jornalista associado, endereço e telefones atuais, para o e-mail: recadastramento@jornalistas.org.br

Atenção!
É possível pagar em duas parcelas no cartão ou cheque.
Tel. do sindicato: 3906-2450 (falar com Solange ou Jaciara)

Venha para o Sindicato, vamos dar uma guinada:
Chapa 1 – Linha Direta com Jornalistas!