30.7.07

Com os pés

O Globo, Opinião, 30/07/2007:

Com os pés

ANDREI BASTOS

Emoção. Esta é a palavra que define o 6 de junho de 2007 para um grupo de atletas com deficiência no Rio de Janeiro. O que era para ser uma solenidade discreta e quase burocrática, de assinatura de contratos de estímulo à prática de esporte entre uma instituição de defesa de direitos das pessoas com deficiência e seus atletas, transformou-se numa cerimônia de profunda humanidade. Como em todo sentimento humano verdadeiro e apaixonado, viveu-se um dia de contradição entre a intensidade e a desordem natural das emoções fortes e o alto grau de civilização de entendimento e vivência da pluralidade humana. Foi algo muito maior do que a conquista da cidadania, que em geral é negada a esses atletas pela sociedade e ali recebia o apoio da instituição na forma de bolsa e outros benefícios.

Foi um ato de amor.

As histórias de vida, contadas com a mais cristalina pureza de alma, deram o ritmo da reunião e estabeleceram uma relação de troca de experiências e sentimentos rara.

A porta aberta para a cidadania pelo Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD) para atletas com deficiência que nunca tiveram o reconhecimento devido, por mais medalhas que conquistassem, cria a possibilidade de eles se dedicarem ao esporte escolhido e evoluírem na sua prática, assim como de obterem qualificação profissional para quando não puderem mais competir. Muito além de simples patrocínios, que se preocupam apenas em aproveitar os momentos de visibilidade proporcionados pelas competições, a ação desenvolvida pelo instituto pretende resultados também para depois da superação de recordes.

Ao conquistar cidadania plena, esse grupo de atletas com deficiência está preparado para ganhar medalhas de ouro e para ganhar a vida. Como atletas e como cidadãos economicamente ativos, eles não precisam mais passar pelo que o judoca cego Antonio Tenório passou: ganhador da medalha de ouro em Atlanta e sem reconhecimento em sua volta ao Brasil, perdeu emprego e patrocínio. Mas Tenório não desistiu de seu sonho e, com a parceria do IBDD, hoje é um dos melhores atletas paraolímpicos brasileiros.

Ao final da reunião, simbolizando a assinatura de todos os contratos, Márcio Jerônimo Pereira Silva, atleta com paralisia cerebral, foi o protagonista do momento de emoção mais forte ao assinar seu contrato do jeito que pode e sabe – com os pés. Certamente o esporte paraolímpico entrará em nova fase, obtendo o reconhecimento que lhe é devido, com o exemplo que essa aliança profunda criada entre uma ONG e seus atletas oferece, ao estabelecer um compromisso de vida num ato de amor.

ANDREI BASTOS é jornalista.

29.7.07

Memória para uso diário

O Grupo Tortura Nunca Mais / RJ e a produtora 4Ventos lançaram neste sábado, no auditório da Fundação Casa Rui Barbosa (Rua São Clemente, 134, Botafogo), o documentário Memória para uso diário, de Beth Formaggini. Depois da exibição do filme houve debate com a diretora Beth Formaggini (Grupo Tortura Nunca Mais - GTNM), Eduardo Passos (GTNM), Suyanna Baker (Comissão Regional de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia / RJ - CRP/RJ) e Vitória Grabois (GTNM).

Memória para uso diário, de Beth Formaggini

O fio condutor é Ivanilda, do Grupo Tortura Nunca Mais / RJ, que durante 31 anos procura nos arquivos sinais do seu marido desaparecido político. Suas idas e vindas se trançam com as ações de militantes e parentes das vitimas da ditadura, que vão desvelando outros fios pelas ruas e cemitérios clandestinos do RJ, num esforço grupal entre esquecimento e memória. Um trabalho de trazer à tona a lembrança de fatos recentes, revelando a seletividade da história oficial e de construir uma memória política. Pensando o passado para que se possa libertar o futuro dos fantasmas que ainda nos perseguem no presente.

27.7.07

Visita ao IBDD

O Globo, Ancelmo Gois, 27/07/2007:

O ministro José Gomes Temporão visita hoje o Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

26.7.07

A hipocrisia não tem endereço fixo

APOLÔNIO ABADIO DO CARMO*

Observatório do Esporte**

A mídia brasileira, nos últimos meses, não fala de outra coisa senão dos jogos pan-americanos. Os noticiários enaltecem as moderníssimas instalações, os 42 países envolvidos, o número de atletas participantes e, logicamente, as chances de medalhas dos competidores brasileiros. Os jornalistas, em clima de festa, transferiram seus estúdios e realizam suas reportagens dentro das majestosas instalações da vila olímpica, entrevistando atletas de diferentes modalidades esportivas.

Em meio a tudo isso, as políticas públicas brasileiras de educação, esporte e lazer, saúde e muitas outras continuam bradando em alto e bom tom o famoso ideário da inclusão, da não discriminação, da equidade de oportunidades, e da igualdade de direitos. Entretanto, apesar desse grito histórico ecoar por todo o mundo, os dirigentes dos comitês olímpicos e paraolímpico não tiveram a coragem de transformar essas políticas em práticas efetivas.

Estamos falando da inadmissível, inaceitável e contraditória concepção de que os jogos parapan-americanos devem ser realizados após os jogos pan-americanos. Aceitar essa postura passivamente é legitimar que os segundos são menos importantes que os primeiros; que existem atletas de primeira e segunda categoria; que há campeões e “campeões”; ídolos e “ídolos”.

A pergunta que não se cala é por que os atletas deficientes não podem competir com os seus pares no mesmo espaço e tempo dos outros atletas? Será que os organizadores não conseguiriam intercalar as provas esportivas e aproveitar, de uma só vez, o público presente, a segurança, os voluntários e toda a parafernália montada para os jogos pan-americanos?

Não! A questão não é técnica ou organizacional, mas de hipocrisia generalizada. Os dirigentes do Comitê Paraolímpico Brasileiro, por exemplo, gastaram todos os seus esforços, nos últimos anos, preparando os atletas brasileiros para essa competição. Entretanto, esqueceram da formação política desses atletas, perdendo, em casa, uma ótima chance de mudar a história dos jogos mundiais, de tornar realidade um sonho, o de ver nas vilas olímpicas atletas deficientes e não deficientes entrevistados, circulando e competindo com seus pares.

Justificar essa separação com argumentos econômicos, ou de que a vila não comportaria todos os atletas de uma só vez, não faz sentido, porque as dependências para os jogos foram planejadas e estão sendo construídas há vários anos. Infelizmente faltaram, na época certa, vontade política e visão de futuro dos dirigentes dos comitês olímpico e paraolímpico brasileiros.

As políticas públicas cortadas transversalmente pelo ideário da inclusão, da equidade de oportunidades e igualdade de direitos, mais uma vez foram esquecidas e negligenciadas, prevalecendo os discursos vazios e hipócritas, dos homens e mulheres sempre contrários à discriminação e às injustiças, mas favoráveis à igualdade universal entre os homens, porém, numa concepção de homem, mundo e sociedade em que se vêem e se acreditam mais iguais que os outros, deixando claro que a hipocrisia não tem endereço fixo.

*Professor aposentado da Universidade Federal de Uberlândia; Membro pesquisador do **Observatório de Políticas de Educação Física, Esporte e Lazer (Observatório do Esporte ) – CNPq/Unicamp.

OBS.: Texto recolhido na internet ( http://listas.cev.org.br/pipermail/cevolimp/2007-July/000834.html ).

23.7.07

Ismar Cardona, muito obrigado.

Em 1982, quando eu estava literalmente na sarjeta por causa de alcoolismo, Ismar Cardona me deu emprego no seu O Indicador Rural, como responsável pela Produção Gráfica da Editora Semente. Parei de beber logo depois.

Do Blog do Noblat, 20/07/2007 (trechos):

Enviado por Sheila D’ Amorim e Vicente Nunes - 20.7.2007 12h39m

Morreu o jornalista Ismar Cardona

Quem teve a felicidade de conviver com o Ismar vai concordar que a melhor palavra para defini-lo é Mestre. É! Mestre do saber, do carinho, da vida.

Você se sentia perdido? O mestre Ismar sempre sabia como nos guiar.

Depois, com o tempo, vimos que o mestre ia além de orientações profissionais. Nos ensinou a viver melhor. Nos deu carinho, amizade, generosidade. A gente não encontra um Ismar por aí todo dia. Ele era único. E, por isso, nos sentimos privilegiados. Sua marca como jornalista seguirá com os incontáveis profissionais que ele formou em várias gerações. Seus feitos estão registrados nas páginas dos principais jornais do país e ficam como parte da história. Mas seu maior legado é ter nos ensinado a sermos pessoas melhores, a apreciar a beleza da vida nas coisas mais simples. Isso ficará sempre conosco e irá para nossos filhos. O jornalista Ismar Cardona, um dos pioneiros do jornalismo econômico, morreu hoje em sua casa, em Brasília, depois de uma longa batalha contra um câncer.

*Por Sheila D’ Amorim, Vicente Nunes, Jesus Ribeiro, Regina Pires em nome dos amigos do Ismar.

Entrevista realizada em 2004 com o jornalista Ismar Cardona, falecido no dia 20, recolhida na internet por Gilberto Menezes Côrtes:

O agronegócio na midia brasileira

Entrevista com Ismar Cardona, realizada por Heloiza Dias, jornalista da Embrapa e mestranda em Comunicação Social da UMESP.

O jornalista Ismar Cardona Machado (62), gaúcho de Passo Fundo, formou-se pela Escola de Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1964. Especialista em assuntos econômicos, tem ampla experiência na mídia nacional, onde começou como estagiário do Jornal do Commercio (RJ) e das revistas Manchete e Fatos & Fotos. Entre as inúmeras funções exercidas ao longo de sua carreira foi redator do Diário Carioca, repórter da sucursal da Folha de S. Paulo, no Rio de Janeiro, coordenador nacional do Repórter Esso, repórter da revista Veja, editor de economia de O Globo (RJ), diretor-proprietário do jornal Indicador Rural (1982-90) e chefe da sucursal de O Globo em Brasília. Foi ainda editor de economia, repórter especial e editor de opinião do jornal Correio Braziliense e diretor de redação da sucursal da Gazeta Mercantil em Brasília. De 1997 a 1998 exerceu a função de assessor de imprensa do Ministério da Saúde e atualmente coordena a comunicação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

C, A & MA: O agronegócio sempre foi pouco prestigiado pela grande imprensa. No entanto, observa-se que de cinco anos para cá, o segmento tem conquistado mais espaço em veículos tradicionais da mídia diária, como os jornais O Globo e o Jornal do Brasil, e revistas semanais como Veja e Isto É. Na sua opinião, a que se deve essa mudança?

Ismar Cardona: Não posso responder a isso sem antes fazer uma pequena retrospectiva. Eu sempre estive envolvido com o segmento agropecuário, desde a época em que eu trabalhava em O Globo. No entanto, a minha experiência jornalística na área do agronegócio começou com mais ênfase quando eu criei o jornal Indicador Rural, em 1982. Nessa época eu ainda conduzia um programa de televisão na rede Bandeirantes também chamado Indicador Rural, que ficou no ar durante dez anos. O Indicador Rural foi o primeiro jornal a trazer o conceito de agronegócio e foi criado em um momento em que a grande imprensa não dava importância ao setor. Estamos falando dos anos 70 e 80, época em que o agronegócio ainda encontrava-se desprestigiado politicamente. Eu havia saído da Veja para montar a editoria de economia de O Globo, onde fiquei de 1972 a 1982. Nesses dez anos recebi milhares de telefonemas de empresários - grandes, pequenos, médios, micros - dos setores industrial, comercial, de serviços -, e atendi inúmeros dirigentes de órgãos de classe e do setor financeiro. Não recebi, contudo, um telefonema sequer de alguém da área agrícola, A área não tinha importância e a mídia reproduzia isso. O que era aquilo? Todo o modelo econômico brasileiro era focado no processo de industrialização acelerada. E isso, historicamente, começou com Getúlio Vargas, com Volta Redonda, com os Tenentes, com a visão nacionalista, com a criação do BNDES, da Petrobrás, do salário mínimo. O reformador do aparelho brasileiro foi o Getúlio Vargas. Veio o Juscelino Kubitschek em plena efervescência, com aquele espírito da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), pelo qual os países emergentes só poderiam aspirar melhor status se investissem na industrialização, porque eles comparavam preço de matéria-prima com preço de manufaturado. Enquanto os preços dos produtos primários cresciam a uma relação de três, quatro vezes, os preços dos manufaturados - minério de ferro, cobre , carvão, cresciam a uma relação de sete, oito vezes. Era muito desproporcional. Se os países subdesenvolvidos continuassem atrelados a esse modelo, de mero estocadores de matéria-prima, não sairiam do lugar. Assim, o governo de Juscelino foi um marco nesse sentido, pois ali começou esse processo, integrado ao Plano de Metas. Esse Plano contemplava programas em várias áreas: construção naval, indústria de metal, mecânica, indústria automobilística, indústria química, todos voltados totalmente para a industrialização acelerada. Quem pagava a conta era a agricultura, o café sobretudo, responsável na época por 60%, 70% da nossa pauta de exportação. Brasília e o Plano de Metas foram financiados pela cafeicultura, via confisco. Tanto isso é verdade que Tancredo Neves, em entrevista ao O Globo disse que o governo Juscelino foi ao mesmo tempo o auge do PSD, partido de base rural, e o começo do fim do PSD, em função da aliança que ele, Juscelino, fez com o PTB, um partido urbano-industrial. Embora a agricultura já viesse perdendo força política, isso ficou mais claro, evidente, a partir dessa aliança promovida por Juscelino entre os dois partidos.

Estatuto do Portador de Deficiência (3)

20.7.07

Miro Besteira

ANDREI BASTOS

Eu era um jovem e promissor diagramador de jornal, em novembro de 1980, e fui convidado pelo jornalista Milton Coelho da Graça para sua festa de cinqüenta anos, cheia de amigos do “partidão”, num sítio em Jacarepaguá. Miro Teixeira, então deputado federal pelo MDB/RJ, estava presente. Renunciando às suas origens políticas, ele se esforçava para se livrar do epíteto “filhote do Chagas Freitas” e o apoio daqueles velhos comunistas vinha a calhar. Confesso que senti certo mal-estar, pois à época eu estava envolvido com outros amigos, brizolistas, e achava que o Miro era um engodo e não servia às causas populares. Além disso, diante dos rapapés e parangolés, e como também à época eu bebia todas, quando fui apresentado ao dito cujo, vomitei: “Muito prazer! Você é o famoso Miro Besteira?”

Certamente ele não lembra disso, talvez por causa do alto teor etílico no sangue, condição minha e de quase todos os presentes, pois só fiquei sabendo do que disse quando me contaram, ou porque, diante do constrangimento que causei, fui logo defenestrado da festa pela turma do “deixa disso”. Brizola se elegeu governador e nosso personagem ficou à deriva até se eleger deputado federal constituinte em 1987. Sempre vivendo mais de pose do que de efetivo trabalho em favor dos mais pobres.

Qual não foi minha surpresa ao ver que, no dia 15 de maio deste ano, o atual deputado federal pelo PDT/RJ Miro Teixeira colocou em pauta para votação o Projeto de Lei 7.966/06, que propõe um Estatuto do Portador de Deficiência, o “Estatuto do Coitadinho”! E surpresa maior ainda foi a minha quando vi que, num segundo movimento, o deputado Celso Russomanno (PP/SP), que está mais para ter prontuário do que currículo, colocou o PL em regime de urgência! Segundo a Transparência Brasil (http://www.transparencia.org.br/), Russomanno tem nas costas dois processos no Superior Tribunal Federal, um por crime eleitoral e outro por crime contra a administração pública - peculato. O que este sujeito quer com as pessoas com deficiência? E de onde virá este súbito interesse de Miro Teixeira pela causa das pessoas com deficiência? Será que Miro e Russomanno estão mancomunados?

Se não estão mancomunados, com mais propriedade do que na festa de Jacarepaguá hoje eu posso dizer que nosso personagem perdeu excelente oportunidade de ficar quieto e, no alto da sua estampa de Carlos Lacerda de quinta categoria, pode ser chamado de Miro Besteira.

19.7.07

Estatuto do Portador de Deficiência (2)

Texto do dia para enviarmos ao deputado Miro Teixeira ( dep.miroteixeira@camara.gov.br ) e seus colegas:

No que diz respeito à acessibilidade nos prédios públicos, a proposta de Estatuto do Portador de Deficiência (Projeto de Lei 7.966/06) prejudica todas as pessoas com deficiência (de qualquer tipo), ricas ou pobres, pois diz que “deverá ser observado o prazo definido em regulamento” para as edificações existentes se adaptarem (Artigo 123, Parágrafo 1º). Ora, se este lixo legislativo tivesse passado, os prazos em vigor deixariam de valer e não teríamos nem mesmo do que reclamar, como no caso dos prédios públicos.

18.7.07

Estatuto do Portador de Deficiência

Vamos enviar o texto abaixo para o e-mail do deputado Miro Teixeira ( dep.miroteixeira@camara.gov.br ), que colocou o Projeto de Lei em pauta para votação e pensa que só os deficientes ricos são contra este Estatuto.

No que diz respeito ao direito de ir e vir, a proposta de Estatuto do Portador de Deficiência (Projeto de Lei 7.966/06) prejudica as pessoas com deficiência, particularmente as mais pobres, que não têm dinheiro para comprar automóveis adaptados ou usar táxis e dependem dos transportes coletivos. O seu Capítulo II (Da Acessibilidade aos Serviços de Transportes Coletivos Públicos e Privados), em todos os seus artigos, diz que a acessibilidade será implantada com regulamentos e prazos que "serão definidos". Ora, se já existem prazos legais vencidos ou por vencer, isto significa condenar os deficientes pobres à exclusão perpétua.

16.7.07

Guia IBDD do Rio Acessível (2)

Edição especial para os Jogos Parapan-americanos patrocinada pela Michelin

A idéia de um guia de acessibilidade para o Rio de Janeiro não é nova no meio das pessoas com deficiência e muito menos no IBDD. O que torna esta iniciativa de agora diferente é que idealizamos uma publicação que preste um serviço da maneira mais direta possível, sem academicismos. Além disso, atribuindo-lhe total objetividade e, ao mesmo tempo, valorizando o que esteja de acordo com as normas de acessibilidade, só entra no guia o que é acessível. O que não é acessível, obviamente não interessa às pessoas com deficiência.

Outra obviedade que caracteriza este guia é que não procuramos “reinventar a roda” e assumimos os modelos de texto consagrados por guias de turismo e páginas de programação cultural e de lazer dos jornais e revistas. Acreditamos que isso facilitará a identificação do propósito e a assimilação das informações da nossa publicação. A estes padrões, acrescentamos apenas informações pertinentes às pessoas com deficiência e o uso do símbolo internacional de acessibilidade, à semelhança das estrelas usadas para categorizar hotéis.

É bom lembrar que estimativa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostra que o mercado de pessoas com deficiência movimenta cerca de R$ 100 bilhões por ano (O Globo, Defesa do Consumidor, pág. 28, 11/07/2007) e, diante da oportunidade oferecida pelos Jogos Parapan-americanos, decidimos fazer uma edição dedicada ao evento, cobrindo a área envolvida, que vai do Centro ao Recreio dos Bandeirantes. Nossa edição Parapan será encartada no jornal O Globo do dia 10 de agosto, sexta-feira, e terá o patrocínio da Michelin.

Bom Parapan para todos nós!

ATENÇÃO:

Se você é proprietário ou conhece hotel, restaurante, bar, teatro ou cinema acessíveis, com banheiro adaptado para pessoas com deficiência, e quer divulgar o(s) estabelecimento(s) gratuitamente, neste guia, envie as informações para o e-mail guia@ibdd.org.br.

15.7.07

Marketing Social

Vou participar do curso Comunicação Empresarial e Gestão de Crises da Pós-Graduação das Faculdades Anglo-Americano. Minha disciplina: Marketing Social.

http://www.angloamericano.edu.br/faculdade-rio/pos/comunicacao_empresarial_ementas.asp

Se você tiver interesse ou souber de alguém que tenha, é só chegar.

***

Comunicação Empresarial e Gestão de Crises na Faculdade Anglo-Americano

A Faculdade Anglo-Americano lança seu primeiro curso de pós-graduação Comunicação Empresarial e Gestão de Crise lato-sensu, em agosto. As inscrições para a primeira turma já estão abertas. As aulas serão ministradas aos sábados com carga horária total de 360 horas, na unidade Barra da Tijuca.

O curso é direcionado aos profissionais graduados, independente de sua área de formação, mas que exercem atividades relacionadas à comunicação empresarial e que desejam se tornar especialistas, com capacitação para gestão de crise. O aluno será orientado a transformar os conceitos em resultados para a empresa estimulando uma visão estratégica e atitudes de foco no cliente, por meio de exposições teóricas; debates; análise de casos; exercícios em grupo e experiências pessoais.

***

Início: Dia 04 de agosto de 2007 (Carga horária total 360 horas - Duração de 14 meses) – Sábados
Local: Unidade Barra - Faculdades Anglo-Americano - Avenida das Américas nº. 2603 – Barra da Tijuca - Rio de Janeiro
Valor: R$ 15 parcelas de 220,00
Programação completa: http://www.angloamericano.edu.br/faculdade-rio/cursos.asp

11.7.07

Acessibilidade nos bairros do Rio (5)

Site do IBDD (www.ibdd.org.br), 09/07/2007:

Acessibilidade nos bairros do Rio (5)

Em acessibilidade, o bairro do Flamengo está na zona de rebaixamento

DIEGO PAES

O tradicional bairro do Flamengo não foge à regra no quesito acessibilidade para pessoas com deficiência. Da estação do metrô à rua mais erma, se locomover nas calçadas é um verdadeiro suplício, em muitos lugares até mesmo para as pessoas sem nenhuma deficiência.

Diferentemente dos outros bairros visitados, o Flamengo consegue ter em suas ruas principais condições mais desfavoráveis que nas vias periféricas, mas isso não quer dizer que estas estejam num patamar muito superior às primeiras. Parece até haver um consenso entre as ruas do Flamengo, algum tipo de pacto de inacessibilidade. Há vias em que os carros disputam com raízes de árvores espaço nas calçadas, deixando-as mais estreitas e impedindo que os cidadãos exerçam o direito básico de ir e vir.

Comércio dá um refresco

Em geral os estabelecimentos comerciais possuem acesso para os deficientes, ressalvadas situações bizarras como a da entrada do supermercado Sendas localizado na rua Clarice Índio do Brasil, que é de assustar. Há uma grande quantidade de fradinhos e de barreiras metálicas em frente à entrada, o que é um perigo para os cegos e diminui ainda mais o já reduzido espaço para a passagem de cadeirantes.

Já as ruas Senador Vergueiro e Marquês de Abrantes, mesmo carregando o status de serem as principais vias do bairro, estão longe de se enquadrarem nos quesitos de acessibilidade. Há trechos com obras em que andaimes e entulhos ocupam a calçada por inteiro. Não é possível que a prefeitura não faça uma fiscalização para a realização dessas obras para que elas não tirem a ordem das ruas!

Campo minado

Andar pelo Flamengo é como percorrer um campo minado. Parece que o bairro incorporou o espírito do Pan 2007, pondo os pedestres em verdadeira corrida de obstáculos. A cada novo trecho um obstáculo diferente aparece à frente. Sejam fradinhos, barras de ferros, pedras portuguesas, buracos, árvores sem gradil, ausência de rampas, orelhões e caixas de correio postas em lugares que deveriam ser facilitadores, e não mais um problema para a locomoção.

Na movimentada Senador Vergueiro, outro supermercado da rede já referida acima insiste em tornar a vida de cadeirantes mais difícil. A calçada em frente à entrada tem dois níveis, o mais alto com barras de ferro e o inferior tão estreito, que quase “joga” as pessoas nas ruas. Para cadeirantes é impossível passar ali. Já do outro lado da rua existe um trecho de calçada com uma faixa de pedestre tão estreita, que atravessar ali é impossível. Entretanto, isso não é tudo, pois após atravessar, subir para a calçada do outro lado é inviável, apesar de ali existir um semáforo - não existe rampa.

Pode-se dizer que o único lugar do Flamengo onde os deficientes podem se locomover melhor é no trecho entre a Praia do Flamengo e o Parque do Flamengo, apesar de que, atravessar todas as pistas até o parque é de tirar a paciência de qualquer um. Com todos esses problemas fica difícil o Flamengo sair da zona de rebaixamento na acessibilidade, ficando entre os piores bairros já visitados por nossa equipe.

8.7.07

Educação, direito de todos

Extra Online, 26/06/2007:

Educação, direito de todos

TERESA COSTA D'AMARAL

A educação é direito básico de toda democracia e fundamento da cidadania de cada ser humano e é também direito inalcançável para grande parte da população brasileira.

Todos sabemos, até porque o senador Cristovam Buarque felizmente não nos deixa esquecer, como a solução desse grande problema brasileiro é perfeitamente equacionável havendo uma política pública consistente com prioridade de agenda governamental.

A conscientização de um problema social não basta para a sua solução; mas não há solução que não passe pela consciência engajada. É precisamente nesta relação que repousa uma das dimensões mais difíceis da situação da deficiência entre nós: ao lado do próprio problema, que é grave, inscreve-se a falta de consciência, que é em si mesma um problema.

Elemento básico de cidadania, a falta de acesso à educação é um dos maiores elementos da exclusão permanente a que estão submetidas as pessoas com deficiência. Essa realidade é devastadora e irreversível e está baseada na total falta de compromisso do Estado e da Sociedade com a maioria dos direitos de cidadania das pessoas com deficiência.

A sua matrícula compulsória na escola e a obrigatoriedade de compromisso do Estado na oferta e fiscalização de educação inclusiva foram um inquestionável e estratégico ponto de não retorno conquistados a partir da Lei 7.853/89. Mas esse avanço só consegue ganhar significado quando se revela fator de inclusão social e conquista de autonomia. Mais que isso, quando vence as formas indizíveis de segregação e inconsciência que são praticadas diariamente na pseudo-inclusão educacional que o Brasil começa a praticar.

Junte-se a isso a perversa invisibilidade dos direitos e compensações a que a pessoa com deficiência faz jus e vemos revelado diariamente um Brasil injusto, onde a prática do sistema educacional é a segregação. Quando não segrega pela inviabilidade de acesso, o sistema segrega pela falta de possibilidade de participação integral nos diversos processos educacionais. Mais do que matricular é necessário incluir, trazer para o centro, tirar dos cantos invisíveis, e visíveis de exclusão. É imprescindível construir um acesso verdadeiro e adequado à educação para todo e qualquer brasileiro.

Uma política social só está completa quando visa também uma mudança de atitude, permitindo que a sociedade, e cada cidadão, se torne sujeito da transformação, única forma de construir um Brasil mais justo.

Sociedade e Estado deveriam ser uma só realidade na solução dessa questão porque é só uma a nação que sofre a exclusão que já não devemos tolerar.

*Teresa Costa D'Amaral é Superintendente do IBDD - Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência

6.7.07

A regra do jogo

ANDREI BASTOS

Há pouco tempo, num final de domingo super família, minha neta de cinco anos me convidou para assistir a um filme de terror, "daqueles com muito terror, pra assustar bastante", disse ela. Esta é uma das suas grandes curtições, junto com seu laptop da Barbie, bonecas, papel e lápis de cor.

Seu convite me surpreendeu e me fez lembrar das incontáveis notícias que nos chegam há bastante tempo sobre a banalização de muitas coisas que pareciam incomuns e verdadeiramente assustadoras às gerações mais antigas. Desde os terríveis assassinatos cometidos por adolescentes em escolas secundárias americanas até o inofensivo prazer em assistir filmes "com muito terror". Seja por valores religiosos, morais ou éticos, antigamente mais divulgados, não se aceitava com a tolerância de hoje em dia grande parte de procedimentos e fatos atualmente considerados banais.

Muito já se escreveu sobre banalização da violência, do sexo etc. e não pretendo aqui discorrer sobre a do terror, promovida pelos acervos das locadoras de vídeos infantis. Minha intenção é fazer um paralelo entre essas banalizações e uma outra, que tem relação direta com o momento político que vivemos neste ano de eleições.

O que as pesquisas de opinião parecem demonstrar até agora é que, assim como as crianças e adolescentes recebem uma avalanche de games e filmes de violência etc. em detrimento de ensinamentos e exemplos de valores e princípios dados por seus pais, perdendo o senso crítico, nós, ao recebermos uma avalanche de denúncias de corrupção e impunidade feita pela mídia há tanto tempo, ficamos anestesiados, entorpecidos, também perdendo o senso crítico, passando a aceitar tais práticas como uma espécie de "brazilian way of life" e não fazemos nada para mudar a realidade.

Mais que isso, as pesquisas e vivências atuais também parecem indicar que todos nós, da classe A à classe D, incorporamos tais práticas ao nosso cotidiano, entendendo, equivocadamente, que é assim que as coisas são feitas por todos e que não é possível agir de maneira diferente, e solitária.

Aparentemente imutável, esta parece ser a regra do jogo. Fica a pergunta, para reflexão: como podemos resgatar nossa visão crítica e participação política?

* Texto publicado pela primeira vez em 10/08/2006 no site www.andrei.bastos.nom.br